segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FECHANDO O ANO

CONQUISTAS LITERÁRIAS EM 2012:

 


*1º lugar, no II concurso de contos de Lins/SP – Antologia a ser publicada;

*1º lugar e menção honrosa, no 16º concurso de contos Mansuetto Bernardi – Veranópolis/RS – Publicação em antologia;

*Menção honrosa, no II concurso de contos de Uberaba/MG – Publicação em antologia;

*Conto selecionado, no concurso “Maricá em prosa e verso”, Maricá/RJ – Antologia a ser lançada.

Bem, poderia ter sido melhor. Entretanto, ficou do tamanho do meu empenho. Em 2013, serei mais determinada e disciplinada. Amém!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

CONTO


DOS NOSSOS CATACLISMOS





“A profecia de 2012”, “Previsões dos Maias”. A banca de jornal estampa manchetes sensacionalistas, sobre o fim do mundo. Procuro uma revista tradicional, uma das poucas publicações impressas que ainda leio. Atualmente, quase o mundo inteiro busca informação na internet. Sinais dos tempos, diriam os antepassados. Quando eu era criança, o fim do mundo acontecia nas tardes de vendaval, trovões e relâmpagos tenebrosos. O clarão na casa fechada e a chuva torrencial lá fora. Minha avó assombrada, ralhava para guardarmos talheres, tesouras e joias que atraíam raios. “Parece que o mundo vai arrasar!” Castigo de um Deus rabugento, que ficava lá no céu, administrando o povo temente. Depois o tempo mudava de humor. O firmamento oferecia o espetáculo do arco-íris. Só não podia passar debaixo, “para não virar menino...”

Minha mãe e minhas tias vislumbravam os sinais do fim dos tempos, através dos escândalos familiares. Uma moça que aparecia grávida, um padre que deixava a batina para se casar, um rapaz com trejeitos diferentes. “Esse mundo está para acabar mesmo”. Coisas insólitas, que desgostavam Deus.

Tinha o apocalipse bíblico. Sobre esse, nem falavam com os pequenos. Murmuravam entre si, citavam São João evangelista. Era bom nem pensar. Coisa para o ano 2000, muito longe e intangível. Dava um friozinho no peito, como se encostasse um picolé, que derretia rapidamente, logo que a boneca Suzi chorava, pedindo carinho.

Deixo o calendário dos Maias dependurado na banca e ando pelas ruas, levando as incertezas e angústias de um mundo em seus derradeiros momentos. Deparo-me com muitas placas anunciando os serviços de tarólogos, cartomantes, astrólogos, gurus...

O ser humano sempre procurou o fim do mundo. O “abominável da desolação”, de Jesus Cristo. As profecias das Pitonisas de Delphi, da Grécia antiga e do livro chinês I Ching. Sempre o buscou fora de si, nas previsões indígenas, egípcias, celtas, científicas... Quiçá, o desejou intimamente, medonhamente.

O fatídico cometa Halley anunciou o cataclismo, em várias passagens pela suscetível terra. Entretanto, esteve por aqui em 1986, sem lesar nenhuma cabeça. Tijolos caíram em alguns transeuntes incautos, por descuido dos pedreiros, que trabalhavam nas construções.

Passo em frente a muitas igrejas, empanturradas de fiéis. Muitos se preparam para ser trigo e não joio, quando o soar das trombetas proclamar o juízo final, em dezembro vindouro. Creio que a maioria roga a Deus, pelos seus dilemas pessoais, pelas aflições palpáveis e cotidianas. O ser humano e o fim do mundo de si mesmo, não o acabar universal.

A hecatombe não vem do céu, para o traído, o endividado, o drogado, o idoso renegado pela família...

Para aquele que comete um delito, a condenação é o fim do mundo. Aquele que morre no coração de alguém sente a agonia do fim, do seu próprio mundo. Para o trabalhador demitido, o vestibulando que não encontra o nome na lista de aprovados, o doente terminal, aquele que perde a esperança, em um entrave qualquer da vida... É o fim do mundo dentro de si mesmo. Depois, renascem, como o arco-íris da infância. Todos nós temos os fins e os recomeços íntimos e diários.

Entro no bar de copo sujo e filosofia pura, que costumo frequentar. Suscito o tema da aniquilação da raça humana, em 21 de dezembro próximo. Encontro Nostradamus, que procura me convencer da veracidade das profecias, com cálculos matemáticos complexos. Discorda do garçom, que lhe mostra as notas de consumo de semanas, refazendo as contas várias vezes. O catador de lixo reciclável, alerta com voz grave, que da outra vez, foi com água e desta feita, será com fogo. Carrega nas costas, uma sacola de plástico grosso e inflamável, cheia de latas vazias. Um ufólogo cita a civilização asteca, formada por extraterrestres. Afirma que chegarão próximo do natal e provocarão o colapso da civilização. O hippie remanescente dos anos 70, replica que entramos na era de Aquarius. Viveremos tempos de amor e paz. Com a proximidade do sol, teremos mais energia. Acabará a mentira e poderemos ver a aura das pessoas. Têm os rapazes que saíram do trabalho e bebem cerveja, interessados nas moças da mesa ao lado, que estão em contagem regressiva. Faltam duas horas para o show do Skank e não dez dias para o final dos tempos.

Deixo o bar, desconfiada de que ninguém mais quer se aprofundar no fim do poço do mundo. Melhor é o fim do expediente, da tarde e desse papo de maluco. A mistura de incerteza e cerveja me entorpece. Será que acabará mesmo? Se soubéssemos, o futuro seria uma pluma ao vento e não esse peso que curva os nossos ombros.

O rico distribuiria o seu dinheiro, não haveria tempo para gastá-lo sozinho. Será?

O assalariado que economizou durante anos, para comprar a casa própria, iria viajar com o dinheiro, conhecer o mundo, antes que...

Ah, se tivéssemos certeza!

Viveríamos cada dia, intensamente e prazerosamente! Talvez, choraríamos e sofreríamos antecipadamente as perdas, apegados que somos aos ipads, iphones e afins.

Os apaixonados declarar-se-iam aos seus amados.

Se estivéssemos mesmo nos tempos do fim...

Muitos pediriam perdão aos seus desafetos. Alguns perdoariam.

Os meliantes deixariam de furtar. Haveria uma catarse generalizada. Todos tentando escapar do caldeirão fervente do capeta.

Talvez, não. Talvez a inconsciência coletiva guiasse os mortais, às vésperas da catástrofe.

Se pudéssemos decifrar os sinais do fim...

Os operários cruzariam os braços. Para que reformar Maracanã, Mineirão, construir estádio de futebol em São Paulo? Não haveria Copa do Mundo em 2014! Isso seria o fim prematuro, para milhões de brasileiros em ação e na expectativa.

Por que teríamos que fazer algo, enquanto aguardássemos o enigmático vinte e um de dezembro de dois mil e doze? Poderíamos ficar quietinhos no canto, passarmos a pão e água, nos penitenciando, meditando...

Ah, incerteza atroz! Parece que aflige somente a mim. Não vejo dúvidas nos semblantes de ninguém nas ruas. Os motoristas franzem as testas, impacientes com o trânsito lento. Querem chegar logo e se divertir bastante! Estão convictos de que viverão eternamente, pelo tanto que correm, trabalham e pelas coisas que acumulam. Quem sabe, acreditam que só eles restarão, para usufruir do litoral tropical? Ninguém passa pela tormenta dos últimos dias. Marcam no calendário, os feriados que terão, até o final do ano.

Será que vai se acabar mesmo? Prossigo, divagando. No tráfego embrutecido das dezoito horas, duas motocicletas se chocam e um dos condutores morre instantaneamente, no asfalto. Tenho certeza, de que pelo menos para ele, este mundo acabou-se.